quinta-feira, 26 de março de 2015

Uma pausa para reflexão

Confesso que não tem sido muito agradável reviver aquela época de minha vida assim, com tantos detalhes. Imaginar que alguém está lendo estes posts é um tanto quanto constrangedor. Sempre que contei minha história para alguém, sempre foi de forma resumida, sem me ater a tantos detalhes. Mas reconheço esse momento como catalizador de emoções e de possíveis respostas a tudo o que tenho vivido nos últimos 20 anos em que olhei pra dentro de mim mesma e não entendi porque algumas coisas eram tão difíceis de se realizar. Hoje mesmo, conversando sobre este blog com o meu marido e citando algumas coisas aqui escritas, chegamos à algumas conclusões.


Não posso me considerar uma pessoa normal. 
Pelo menos não do ponto de vista da sociedade em geral. 

Pra começar, não consigo dormir cedo. Jamais. Se penso em dormir cedo, durmo às 2 da manhã. Normal pra mim é dormir entre as 3 e às 5 da madrugada. Normal pra mim é dormir de manhã. Então quando tenho compromissos no período da manhã, imagine o quanto me é difícil. Sim, vou lá e cumpro, mas sinto como se não estivesse lá. Por exemplo, se eu for pra alguma aula, preciso desenhar ou escrever. Se apenas ouvir, não ouço nada.

Não consigo ter rotinas ou disciplinas. De jeito nenhum. Tenho que me esforçar muito para cumprir algumas tarefas. Há anos venho tentando estipular tarefas e horários pré-determinados, mas nunca consigo cumprí-los. Não é questão de má vontade ou preguiça, simplesmente não consigo. Quando percebo já era, já foi, já passou. Isso porque tenho agenda, agenda telefônica, bilhetinhos na geladeira. Na época da faculdade sofri muito com isso. Quando trabalhava fora também. Cumprir horários e "bater cartão" é extremamente difícil pra mim. Tanto que a maneira que encontrei para continuar trabalhando foi ser autônoma, trabalhando em casa, fazendo os meus próprios horários.

Também tenho um problema bem sério de memória. Não a memória antiga, essa é ótima, me lembro com detalhes de coisas que até faço questão de esquecer. Mas a memória recente, esta está muito complicada... Esqueço tudo, a todo momento. Já não guardo mais nomes ou números. Há 3 meses estou morando em uma nova cidade e ainda não consegui decorar o número do telefone de casa. Também não consegui decorar o número do meu celular que tenho há 3 anos. Não consigo decorar o número de meu CPF que tenho há décadas... Demoro muito para decorar nomes de novos conhecidos. Não consigo me lembrar das coisas mais corriqueiras. Quer um exemplo? Desde que me casei eu esqueço de estender as roupas que lavo na máquina. Todos os dias. Nos dois últimos anos me esqueci do meu próprio aniversário. 


Nos últimos anos venho me esquecendo de conversas. Meu marido me pede algo, se eu não fizer imediatamente eu me esqueço de fazer. Várias coisas que ele me conta, se ele fizer alguma pergunta sobre o assunto depois de um tempo eu sinto como se ele nunca tivesse me contado nada. Antes de termos consciência do que estava acontecendo comigo, tínhamos algumas discussões a esse respeito pois ele entendia que eu simplesmente não prestava atenção e por isso não guardava as informações. Por mais que eu explicasse, ele me dizia "você precisa prestar mais atenção nas coisas". Hoje tudo é diferente. Ele percebeu que é algo muito mais sério. Fico muito constrangida cada vez que alguém me diz "mas eu te contei isso, você não se lembra?"... Não, eu não me lembro. E tenho me lembrado cada vez menos.

Uma coisa tem me assustado. O meu pai está com a doença de Alzhaimer e sei que é genético. Algumas tias também tiveram. Ontem, ao escrever sobre as lesões irreversíveis que as anfetaminas ocasionaram ao meu cérebro, pensei em minha situação atual.  No problema de memória, na falta de concentração, na dificuldade em criar rotinas, na dificuldade em dormir.Tudo me leva a crer que estou caminhando a passos largos em direção ao Alzhaimer. Isso me preocupa, mas preciso viver o dia de hoje. E hoje, o que tenho, é a vontade de lutar.

Um comentário:

  1. Estou gostando muito de acompanhar a sua história e tragetória. Não vejo a hora de saber como isso vai terminar. Força!

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Valeu!