segunda-feira, 23 de março de 2015

Anos Rebeldes


Olhar para trás e ver o que eu poderia ter evitado não me traz alento algum. Hoje, ao escrever este blog e pensar em tudo o que vivi, tenho a certeza de que minha vida estava sendo regida por uma poderosa mão, por algo mais forte, por alguém Eterno, que tinha todo o poder de colocar obstáculos que me fizessem mudar de caminho novamente. Se isso não aconteceu naquela época, é porque Ele permitiu que eu vivesse tais experiências. Talvez, se eu não as tivesse vivido, estaria hoje em um tormento psicológico tremendo.

Agora quero que você viaje no tempo comigo. O ano era 1990. Em meu acervo particular haviam discos e mais discos do melhor rock, dos mais clássicos aos sucessos da época. Eu, roqueira assumida, andava sempre com minhas calças jeans rasgadas, tênis all star ou coturno nos pés e camisetas pretas com estampas de bandas de rock. Cabelos sempre despenteados, pretos ou vermelhos, com algumas mechas coloridas. De tempos em tempos alguma novidade eu fazia, como raspar toda a nuca e manter o resto comprido. Naquela época não havia piercing, então furávamos as orelhas o máximo que conseguíamos com furadores normais das farmácias e nós mesmos furávamos o nariz para colocar argolas ou brincos. Eu tinha um de meia lua. Estava magra, bonita, perfeita, usando por fora o que eu sentia por dentro. Um grito contra tudo o que me fazia mal. Um soco no estômago de todos aqueles que me haviam feito sofrer.

Meu quarto tinha as paredes forradas com posteres das minhas bandas preferidas e em uma das paredes eu pintei, em tamanho gigante, o desenho da tatuagem que fiz em minha canela. 

O tempo ia passando e a cerveja já não me era tão absoluta. Em todas as festas, encontros e shows, tudo era regado à muito álcool. Foi então que passei a tomar whisky, wodka, batidas, licores e o que mais tivesse por perto. Só não tomava pinga. O efeito do álcool + anfetaminas era bombástico, a ponto de eu ter alucinações, viver em um mundo paralelo a maioria do tempo, sempre fora da realidade. Tudo o que era parecia não ser e o que não era parecia ser.


Meu namorado da época montou uma banda com seus amigos, mas o baterista não pode mais participar. Lá fui eu tocar bateria. A menininha do papai que não podia fazer nada, a mocinha bem comportadinha que sempre fez tudo como manda o figurinho se tornou uma roqueira bêbada, drogada, baterista de uma banda de garagem, com olheiras e cara de louca. O fato de agora eu ter um namorado me dava o ticket de passagem para poder esticar meus programas até mais tarde ou dormir fora, "no quarto da irmã dele". Sempre ouvindo todas as recomendações possíveis de como eu deveria me comportar, fazendo cara de boazinha e enganando a todos, saía de casa pra viver a vida da maneira que eu bem entendesse. 

Minha vida seguiu esse rumo por quase três anos.

De tempos em tempos eu passava no médico só para aproveitar a consulta e roubar algumas folhas do receituário. Falsificava a assinatura, forjava o carimbo e fazia as receitas ao meu modo. Modificava a quantia de miligramas de cada componente da fórmula e adquiria com facilidade as minhas cápsulas cheias de droga. Drogas poderosas que agiam dentro de meu organismo de maneira avassaladora, juntamente com todo tipo de bebida que você imaginar. Do meu jeito, afirmando a todos que eu nunca usei drogas, eu vivia intensamente o "sex, drugs and rock'n'roll".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Valeu!