quarta-feira, 22 de abril de 2015

O nascimento

O restante de minha gravidez foi mais calmo. Ao subir na balança da médica percebemos que eu havia eliminado alguns quilos, graças a minha alimentação regrada à frutas, legumes, verduras e carnes magras.

O calor era insuportável, então comia cada vez mais gelo entre uma refeição e outra.

Minha pressão estava regularizada, eu continuava sendo medicada. Também continuava tomando os remédios para "segurar" meu bebê em meu útero e o remédio da tireoide. Continuava em repouso. Tudo o que estava ao meu alcance, fazia.

Também orava muito, todos os dias, pedindo a Deus que abençoasse minha gravidez e permitisse que meu bebê nascesse saudável e perfeito fisicamente e mentalmente. Confiava que Ele faria o melhor, mesmo que meu bebê nascesse com alguma deficiência. Mas o desejo do meu coração era o de ter um filho perfeito.

No final do sexto mês os sangramentos cessaram e recebi alta de meu repouso. Fui liberada para subir escadas, desde que subisse bem devagar. Também pude andar um pouco mais de carro e fazer caminhadas curtas. Me alegrei muito com a notícia pois pude, finalmente, ir às lojas e comprar a decoração do quarto do bebê. Tudo foi decorado em branco, azul, verde e laranja. Muitos bichinhos também fizeram parte da composição do quarto. Finalmente a gravidez estava tomando um rumo gostoso, mais leve e tranquilo.

Porém, no final do sétimo mês os sangramentos voltaram e a pressão tornou a subir. Também fui diagnosticada como portadora de diabetes gestacional, algo perigoso para mim e para o bebê. Além de todas as possíveis complicações, o bebê poderia desenvolver diabetes tipo II após o nascimento. Voltei a ficar de repouso, porém desta vez com ainda mais cuidados. O bebê poderia nascer a qualquer momento. Já deixei a minha mala e a malinha do bebê prontas para a ida à maternidade.

Em minha última consulta, na 37a semana, a doutora me perguntou qual a data que eu gostaria de marcar a cesárea. Não havia possibilidade de se realizar um parto normal devido às minhas condições e mesmo a cesárea seria um procedimento de risco. Naquela altura já sabíamos que eu e meu bebê poderíamos correr risco de vida na sala de cirurgia.

Em meu coração pulsava uma data: Sábado, 10 de março. Mas olhando o calendário, seria melhor marcar para o dia 9 a noite, sexta-feira, pois meu marido teria todo o final de semana para estar comigo e só voltaria ao trabalho na segunda-feira. Então marcamos para o dia 09.

Eu estava caminhando para a 38a semana. Na véspera da cirurgia o meu coração estava acelerado demais... Muita ansiedade, muita adrenalina. A pressão começou a subir mais do que antes. Eu sabia que não poderia deixar esses sentimentos me dominarem, então pedi a Deus que me desse uma "anestesia dos céus". Eu precisava me acalmar... E foi logo após a minha oração que uma calma e uma paz que excedem todo o entendimento me invadiram. Aquela noite consegui dormir tranquilamente.

Finalmente, o grande dia chegou. O dia em que eu veria o rostinho daquele bebê tão amado, do meu menino querido, meu primeiro filho! Recebi muitos telefonemas durante o dia, flores e mensagens. A noite pegamos todas as nossas coisas e fomos para a maternidade. Já estava na hora!

Chegando lá, fizemos todos os procedimentos e fomos para o quarto. Nossos amigos mais chegados estavam todos lá, bem como alguns membros de nossa família. Todos ficaram no quarto, conversando, rindo e esperando com ansiedade o momento em que eu fosse para a sala de cirurgia. O tempo foi passando e a doutora não chegava. Foi quando uma enfermeira nos explicou que ela estava acompanhando uma outra mãezinha que estava em trabalho de parto, provavelmente teríamos que esperar um pouco mais para que a cirurgia fosse realizada. Nesse momento entendemos que o tempo de Deus é perfeito e começamos a comemorar aquela situação linda de pré-nascimento com uma verdadeira festa no quarto com muitas flores, alegria e até salgadinhos e refrigerantes.

Olhei para o relógio. O dia 9 estava acabando. Meu coração estava certo. Ele nasceria no dia 10.
Quando o relógio passou da meia-noite, a enfermeira abriu a porta e disse: "Mãezinha, está na hora".

Naquele momento toda a alegria sumiu. A ansiedade voltou, menor, mas voltou. Meu coração acelerou. Olhei para cada um e pedi que orassem por mim. Tive um pouco de medo. Fui conduzida pela enfermeira à sala onde colocaria a touca e o sapatinho cirúrgico. Me pesei: a balança marcou 115 quilos. No total de minha gravidez eu engordei apenas 5 quilos. Em outra sala me sentei na cama para receber a anestesia rack. Soube que a quantia de anestesia é dada conforme os quilos que a paciente tem. Nessa hora estremeci. Pedi para que o anestesista fosse cuidadoso pois eu tinha muitas dores nas costas. A dor que senti ao tomar a anestesia na coluna, na região lombar, foi indescritível. Meus dedos quase afundaram nos braços dos enfermeiros que me seguravam.

Respirei fundo. Me deitei na cama cirúrgica. Meus braços foram amarrados, um tecido azul foi erguido entre meu rosto e o resto de meu corpo. Comecei a ser monitorada. Orei entregando aquele momento à Deus.

Meu marido entrou no quarto, de touca e máscara cirúrgica, trazendo a máquina fotográfica em mãos. Ele me assegurou que não desmaiaria e que registraria todos os momentos do nascimento. Quando ele segurou em minha mão, um filme passou pela minha cabeça. Pensei em tudo o que havia vivido até ali. Pensei em minha mãe. Pensei em falar uma frase de despedida, caso algo desse errado, mas não consegui. Uma felicidade imensa começou a me invadir, uma alegria inexplicável.

- Eles já cortaram a sua barriga - ele disse. Estão mexendo em você agora.

Eu sentia toda a movimentação, mas não sentia dor. Os médicos conversavam entre si sobre os mais variados assuntos. Uma canção tocava pela sala. Meu coração estava acelerado, mas eu estava calma. Meu bebê estava nascendo, ele estava chegando pra mim.

- Amor, tá nascendo!

Foi então que ouvi a doutora dizer a ele, às 01h05:
- Oi, tudo bem? Estávamos esperando por você, querido. Seja bem vindo.


O choro invadiu a sala. Um choro forte que invadiu o meu coração. Ele estava vivo, ele estava bem, eu estava bem. Meu amor beijou a minha testa, começamos a chorar juntos.

- Eu te amo, meu amor. Eu te amo.
- Eu também, querido... eu também!

Naquele momento a minha cabeça deu um nó, um giro de 360 graus. Eu já não era mais a mesma, tudo mudou. Naquele momento eu também havia nascido, uma nova pessoa, uma mãe. Uma pessoinha dependia de mim a partir daquele momento e eu era responsável por ela. 

Um dos médicos trouxe o nosso bebê para que o víssemos. Tão lindo, tão maravilhoso, com a mesma carinha que vimos no ultrassom. Não queríamos mais nos separar dele, mas ele teve que ser levado para os procedimentos necessários. A minha cirurgia continuou até que toda a cesárea fosse concluída. 

Fui levada na mesma cama ao corredor do hospital e já naquele momento comecei a sentir que a anestesia estava passando. Pedi à doutora que me desse algo para aliviar a dor e ouvi uma das respostas mais difíceis de minha vida:

- Querida, você não pode tomar nenhum tipo de medicação agora, a sua pressão está muito alta. Peça a Deus para te dar forças, quando você puder as enfermeiras lhe trarão algum alívio.

Respirei fundo e pedi a Deus que me ajudasse a passar por aquele momento. Fui levada na cama ao quarto e ali permaneci por algumas horas, sentindo toda a dor da operação. Minhas costas e minhas pernas também doíam muito e eu não conseguia descansar nem dormir.

No meio da madrugada a enfermeira mediu minha pressão e me deu analgésicos. Quando comecei a sentir um pouco de alívio das dores, a porta se abriu e outra enfermeira entrou, trazendo o meu bebezinho em uma caminha sobre um carrinho hospitalar.

- Aqui está o seu filhão, ele é lindo. Ele vai ficar aqui com vocês a partir de agora. Já está bem limpinho e tomou algumas horas de luz. É bom que você tente dar de mamar a ele agora.


Quando o segurei pela primeira vez senti algo indescritível. Por mais que eu usasse palavras para dizer o que senti, jamais conseguiria. A emoção, a alegria e a realização são tremendas! Ofereci meu seio a ele que depois de alguns minutos começou a produzir o colostro. Ele mamava um pouco tímido no começo, mas logo se aninhou em meus braços e se sentiu confortável para se alimentar e receber todo o carinho que eu tinha para lhe dar. Seu pai observava aquela cena com lágrimas nos olhos. Nós não conseguíamos parar de nos emocionar.

Na manhã seguinte recebemos a visita de um médico. Ele pegou a minha ficha, leu e me disse: 

- Hummmm... teve pré-eclâmpsia, né? E foi grave. Mas agora está tudo bem, né? Você está se sentindo bem, seu bebezinho já está aí com você, está tudo bem!

O quê? Eu tive pré-eclâmpsia? Sim, eu tive. E depois eu soube que minha pressão estava tão alta e minhas condições eram tão graves que se eu tivesse eclâmpsia, dificilmente sobreviveria. O bebê também correu risco de vida. Mais uma vez vivi um milagre.

Então o doutor continuou:
- Muito bem, muito bem, diferentemente dos outros bebês que sempre tiram no máximo nota 9 no teste apgar, esse meninão aqui tirou nota 10. Papai e mamãe, vocês têm um filho perfeito, parabéns.

Naquele instante eu soube que meu filho não era apenas perfeito fisicamente, mas também mentalmente. Deus havia dado um recado a nós dois. Ele havia realizado o milagre que tanto pedimos. Nosso filho era perfeito, em todos os sentidos.

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