sábado, 5 de setembro de 2015

A vez das pernas

O tempo passou e meu organismo registrou o maior número que a balança já me mostrou. Deixando de comer doces, massas e de tomar refrigerantes eu conseguia eliminar 5 quilos, mas esse número perto dos 40 quilos ideais que eu deveria eliminar era tão pequeno que nem era notado.

Minha vida e de minha família seguiu seu rumo. Apesar das dificuldades, nunca deixamos de nos divertir, conhecer novas pessoas, sermos ativos e ajudarmos o próximo. Nosso filho crescia, inteligente, simpático e muito brincalhão. Nosso relacionamento também crescia em amor e cumplicidade. Minha família era o meu alicerce dado por Deus.

Depois de morarmos por 4 anos naquela pacata cidade do interior, nos mudamos para a minha cidade natal, também no interior. Logo no primeiro ano morando por lá procurei um endocrinologista. Mais uma vez a conversa foi a mesma: cortar refrigerantes, açúcares, me alimentar de frutas, verduras, legumes, carnes magras, ingerindo pequenas porções de carboidratos 1x ao dia. Tudo isso fazendo uso da velha conhecida sibutramina. Lá se foram 14 quilos.


Como sempre acontece, minha determinação era grande. Desta vez eu não iria parar. Meu médico estava perto de mim, minha medicação estava em dia. estava fazendo exercícios diariamente na piscina além de fazer exercícios acompanhando programas de Jillian Michaels na TV.

Certo dia minha perna esquerda começou a doer. Como sempre senti dores pelo corpo todo, imaginei que seria mais uma dor que eu teria que me acostumar e não dei importância. A dor não só continuou ali como passou a aumentar. Até que um dia acordei de madrugada com uma dor insuportável, como se alguém estivesse dando vários beliscões fortíssimos por toda a minha perna esquerda! Chorando muito, fui levada pelo meu marido até o pronto socorro. Fui examinada por um residente que me indicou manter as pernas elevadas até que eu conseguisse uma consulta com uma especialista vascular. Tomei alguns analgésicos e fui para casa.

Até que eu conseguisse tal consulta se passaram dois meses. Foram dois meses tomando analgésicos comuns e mantendo as pernas para cima, em repouso, com medo de uma possível trombose. Parei de tomar a sibutramina com medo de ter possíveis complicações.

Após a consulta com a médica vascular foi constatado que não havia trombose ou problemas vasculares. A dor diminuiu um pouco com os analgésicos, a sensação de "beliscões" sumiu, mas continuei sofrendo. Minha qualidade de vida diminuiu ainda mais, só conseguia fazer pequenas caminhadas e sentar acompanhada de uma almofada nas costas.

Fui encaminhada a um ortopedista que me tratou durante 7 meses. Com ele fiz raio-x, eletroneuromiografia e ressonância magnética das pernas. Tomei vários medicamentos, porém sem grandes resultados.

Fui diagnosticada com artrose na coluna com possível compressão dos nervos ciáticos, mas havia suspeita de que eu estivesse também com fibromialgia. Fui então encaminhada a uma reumatologista para investigar outras possibilidades e até um possível câncer.

O julgamento alheio

Eu vinha caminhando bem. Estava emagrecendo, estava com mais ânimo, estava mais contente. Mas havia uma dificuldade em se ir da cidade onde eu morava até a outra cidade onde eu tinha o meu plano de saúde. Dependíamos de muitas outras coisas para que isso pudesse acontecer. Sendo assim, acabou a medicação, fiquei 2 meses sem ir ao médico e consequentemente sem conseguir a receita para comprar mais medicamentos. Mantendo o mesmo esquema de alimentação que fiz durante a dieta, nesses 2 meses eu adquiri 8 dos 14 quilos que havia eliminado. Nem preciso comentar sobre o desânimo e a tristeza que esse fato me trouxe...

Naquele momento percebi que, qualquer que fosse a medicação, meus problemas não seriam resolvidos assim. A cada quilo ganho, a sensação de impotência aumentava. E foi assim, num piscar de olhos, que fiquei mais gorda do que estava antes de iniciar a dieta.

O que sempre me chateou muito foram os julgamentos. Cada pessoa gorda tem um motivo para ser assim, mas quem é magro não entende isso. Para a maioria dos magros, tudo é questão de estilo de vida e de escolhas. Então a famosa frase "só é gordo quem quer" passa a ser uma máxima. Mas sejamos sinceros: você conhece algum gordo que quer ser gordo?


Convivi a minha vida toda com os julgamentos alheios. Mas, ao contrário do que se pensa, o julgamento não vem apenas daqueles que não te conhecem. Vem também dos que te conhecem de perto. Estes, piores do que os outros, conhecem o seu estilo de vida, vêm o seu esforço mas, mesmo assim, pensam que você só pode estar fazendo algo errado enquanto eles não o vêm. Imaginam que você come muitos doces e massas durante a madrugada, que come escondido, mente sobre suas justificativas e que exagera quando fala sobre suas dificuldades. Pensam que você não se esforça o bastante, não se doa o bastante, faz "corpo mole", arruma desculpa pra tudo e não emagrece porque não quer abrir mão de seus prazeres. E concluo que esses julgamentos são piores do que os de quem não o conhece.

A minha vida toda lutei para emagrecer. Você, que tem acompanhado este blog, tem tido um pouco de noção sobre as lutas que travei em relação a minha saúde. Mas garanto que ainda hoje ouço coisas que me deixam desacreditada na humanidade. Frases como "você precisa fazer uma forcinha", "precisa dar um jeito nisso", "precisa se dedicar mais", "precisa tomar jeito", "está assim porque é preguiçosa", "está colhendo o que plantou" são como apunhaladas em meu peito, principalmente quando vindas de pessoas que poderiam me dar apoio e compreensão ao invés de me acusar de tal forma.

Aprender a ignorar essas falas nunca foi fácil. Hoje consigo administrar de uma maneira mais madura tudo isso, sabendo que meu marido, meu filho e Deus sabem exatamente como é o meu dia-a-dia, como são as minhas lutas e o meu esforço. E é a opinião deles que me importa.