segunda-feira, 27 de abril de 2015

Tempo de mudanças

Eu e meu amor morávamos há quase dez anos na mesma cidade, desde que nos casamos. Nosso amor crescia, se solidificava e se tornava cada vez mais forte. Meu querido jamais falou qualquer coisa negativa a respeito de meu corpo, ao contrário, seguia sempre me incentivando, valorizando minhas qualidades e me apoiando. Quando nosso bebê estava para completar 2 anos resolvemos nos mudar e viver uma reviravolta em nossas vidas. Fomos para uma cidade pacata do interior, num bairro com muito verde, um lago imenso, muitas árvores e sossego.

Foram anos maravilhosos onde fizemos muitos amigos, realizamos várias coisas, trabalhamos, estudamos e nosso filho pôde viver a primeira infância de uma maneira saudável, rodeado de amigos, andando de bicicleta, correndo, subindo em árvores, brincando no mato e na terra.

Porém, nestes anos eu enfrentei momentos muito complicados com a minha saúde. 


Nós morávamos no terceiro andar de um prédio sem elevador. Eu subia e descia quatro lances de escada no mínimo uma vez ao dia. No primeiro ano achei incrível, afinal eu faria exercícios todos os dias, certamente emagreceria e ficaria com as pernas bem durinhas!

Engano meu... meus joelhos começaram a doer cada vez mais. Eu sentia como que agulhas gigantescas me perfurando os joelhos na parte da frente e atrás. Com o passar do tempo eu mal saía de casa, pois enfrentar as escadas tornou-se um pesadelo. As tão sonhadas caminhadas no lago não aconteceram, pois caminhar me traziam dores terríveis nas pernas e nas costas. Meu peso oscilava, eu perdia 3 quilos, ganhava 4, perdia 5, ganhava 3...

Foi então que eu busquei a ajuda de um endocrinologista. Sabendo do meu histórico de hipoglicemia, hipotireoidismo, dependência em anfetaminas e álcool no passado, ele me explicou que o meu organismo era uma bomba-relógio. Além do meu corpo ter um dos metabolismos mais lentos que ele já viu em toda a sua história como endocrinologista, ele também tinha um problema sério: ao mesmo tempo em que necessitava de açúcar (pois hipoglicemia é excesso de insulina e falta de açúcar), todo o açúcar ingerido se transformava em gordura. Então eu não conseguia jamais suprir as necessidades do meu organismo e o ciclo vicioso continuava de uma maneira que só me trazia prejuízos. Ao mesmo tempo em que eu não podia cogitar a possibilidade de ingerir doces, eu precisava de doces.  

O fato de eu estar com obesidade mórbida me dificultava para fazer qualquer exercício, incluindo as caminhadas pelo fato da dores nos joelhos. Fizemos um exame de raio-x para verificar se não havia artrose e deu negativo. O problema provavelmente provinha de outras complicações. E também me sentia extremamente cansada, com uma exaustão inexplicável e muitas dores em todas as articulações. Após vários exames de sangue constatamos que eu estava com falta de ferro, o que explicava consideravelmente minhas dores pelo corpo.


Após alguns exames físicos incluindo eletrocardiograma, começamos um tratamento com caminhadas leves e medicamentos, entre eles a sibutramina. Ele me assegurou que com a minha idade e meu histórico eu dificilmente conseguiria eliminar alguns quilos sem ajuda medicamentosa. Em 5 meses eliminei 14 quilos. A alegria e a esperança voltaram. Já subia as escadas com mais facilidade, as dores haviam diminuído, bem como o cansaço e desânimo. Naquele momento eu acreditei que finalmente a minha vida estaria mudando nesta área.

domingo, 26 de abril de 2015

Lutando mais uma vez

Engordei apenas 5 quilos durante toda a minha gravidez. No dia seguinte ao parto eu já estava com 5 quilos a menos, com o mesmo peso que estava no início da gravidez. Com a amamentação exclusiva, eliminei mais 10 quilos nos próximos 3 meses. Cheguei aos 100 kg com a maior felicidade do mundo. Estava vivendo um dos melhores momentos de minha vida, a paz e a alegria nunca foram tão intensas... Me sentia completa, realizada, feliz como nunca.


Estudiosos dizem que o nosso cérebro registra a última pesagem do nosso corpo e depois luta para chegar nesse número todas as vezes em que emagrecemos. Ali estava eu, quase saindo dos três dígitos, mas sentindo o meu corpo lutar para voltar aos 115 kg. 

Amamentei até o meu filho completar dois anos. Como as mamadas já não eram tão frequentes, comecei a engordar e fui dos 100 kg para os 110 kg aos poucos. Depois que parei com a amamentação, comecei a engordar mesmo mantendo a mesma rotina de alimentação saudável e caminhadas diárias. Meu corpo conseguiu voltar aos temidos 115 kg. Conforme os anos foram passando, o meu peso foi aumentando. Cheguei ao maior número jamais registrado: 125 kg.

Isso é o que as pessoas não entendiam e ainda não entendem a meu respeito. Quem não está comigo no dia-a-dia não imagina que me alimento como uma pessoa magra. Pensam que como o dia todo, coisas extremamente gordurosas e calóricas... Os olhares e julgamentos fazem parte de minha vida, sempre fizeram e continuam a fazer.

Naquela ocasião eu mantinha minha rotina de caminhadas dia sim, dia não. Me mantinha sempre em atividade, quem é mãe de pequenos sabe como é. Cuidava da casa, trabalhava como designer fazendo meus próprios horários. Não havia motivo para engordar tanto... 

Ao mesmo tempo em que eu me sentia realizada e plena como esposa, mãe e profissional, a angústia crescia por causa da cobrança da família e de alguns conhecidos em relação ao meu peso. Frases como "nossa, como o seu rosto é lindo" sempre vinham como um golpe em meu peito. Ninguém diz isso. A frase deveria ser "nossa, como você é linda" e ponto. Mas a ênfase no rosto sempre deixava claro que o rosto era lindo, mas o resto incomodava.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

O nascimento

O restante de minha gravidez foi mais calmo. Ao subir na balança da médica percebemos que eu havia eliminado alguns quilos, graças a minha alimentação regrada à frutas, legumes, verduras e carnes magras.

O calor era insuportável, então comia cada vez mais gelo entre uma refeição e outra.

Minha pressão estava regularizada, eu continuava sendo medicada. Também continuava tomando os remédios para "segurar" meu bebê em meu útero e o remédio da tireoide. Continuava em repouso. Tudo o que estava ao meu alcance, fazia.

Também orava muito, todos os dias, pedindo a Deus que abençoasse minha gravidez e permitisse que meu bebê nascesse saudável e perfeito fisicamente e mentalmente. Confiava que Ele faria o melhor, mesmo que meu bebê nascesse com alguma deficiência. Mas o desejo do meu coração era o de ter um filho perfeito.

No final do sexto mês os sangramentos cessaram e recebi alta de meu repouso. Fui liberada para subir escadas, desde que subisse bem devagar. Também pude andar um pouco mais de carro e fazer caminhadas curtas. Me alegrei muito com a notícia pois pude, finalmente, ir às lojas e comprar a decoração do quarto do bebê. Tudo foi decorado em branco, azul, verde e laranja. Muitos bichinhos também fizeram parte da composição do quarto. Finalmente a gravidez estava tomando um rumo gostoso, mais leve e tranquilo.

Porém, no final do sétimo mês os sangramentos voltaram e a pressão tornou a subir. Também fui diagnosticada como portadora de diabetes gestacional, algo perigoso para mim e para o bebê. Além de todas as possíveis complicações, o bebê poderia desenvolver diabetes tipo II após o nascimento. Voltei a ficar de repouso, porém desta vez com ainda mais cuidados. O bebê poderia nascer a qualquer momento. Já deixei a minha mala e a malinha do bebê prontas para a ida à maternidade.

Em minha última consulta, na 37a semana, a doutora me perguntou qual a data que eu gostaria de marcar a cesárea. Não havia possibilidade de se realizar um parto normal devido às minhas condições e mesmo a cesárea seria um procedimento de risco. Naquela altura já sabíamos que eu e meu bebê poderíamos correr risco de vida na sala de cirurgia.

Em meu coração pulsava uma data: Sábado, 10 de março. Mas olhando o calendário, seria melhor marcar para o dia 9 a noite, sexta-feira, pois meu marido teria todo o final de semana para estar comigo e só voltaria ao trabalho na segunda-feira. Então marcamos para o dia 09.

Eu estava caminhando para a 38a semana. Na véspera da cirurgia o meu coração estava acelerado demais... Muita ansiedade, muita adrenalina. A pressão começou a subir mais do que antes. Eu sabia que não poderia deixar esses sentimentos me dominarem, então pedi a Deus que me desse uma "anestesia dos céus". Eu precisava me acalmar... E foi logo após a minha oração que uma calma e uma paz que excedem todo o entendimento me invadiram. Aquela noite consegui dormir tranquilamente.

Finalmente, o grande dia chegou. O dia em que eu veria o rostinho daquele bebê tão amado, do meu menino querido, meu primeiro filho! Recebi muitos telefonemas durante o dia, flores e mensagens. A noite pegamos todas as nossas coisas e fomos para a maternidade. Já estava na hora!

Chegando lá, fizemos todos os procedimentos e fomos para o quarto. Nossos amigos mais chegados estavam todos lá, bem como alguns membros de nossa família. Todos ficaram no quarto, conversando, rindo e esperando com ansiedade o momento em que eu fosse para a sala de cirurgia. O tempo foi passando e a doutora não chegava. Foi quando uma enfermeira nos explicou que ela estava acompanhando uma outra mãezinha que estava em trabalho de parto, provavelmente teríamos que esperar um pouco mais para que a cirurgia fosse realizada. Nesse momento entendemos que o tempo de Deus é perfeito e começamos a comemorar aquela situação linda de pré-nascimento com uma verdadeira festa no quarto com muitas flores, alegria e até salgadinhos e refrigerantes.

Olhei para o relógio. O dia 9 estava acabando. Meu coração estava certo. Ele nasceria no dia 10.
Quando o relógio passou da meia-noite, a enfermeira abriu a porta e disse: "Mãezinha, está na hora".

Naquele momento toda a alegria sumiu. A ansiedade voltou, menor, mas voltou. Meu coração acelerou. Olhei para cada um e pedi que orassem por mim. Tive um pouco de medo. Fui conduzida pela enfermeira à sala onde colocaria a touca e o sapatinho cirúrgico. Me pesei: a balança marcou 115 quilos. No total de minha gravidez eu engordei apenas 5 quilos. Em outra sala me sentei na cama para receber a anestesia rack. Soube que a quantia de anestesia é dada conforme os quilos que a paciente tem. Nessa hora estremeci. Pedi para que o anestesista fosse cuidadoso pois eu tinha muitas dores nas costas. A dor que senti ao tomar a anestesia na coluna, na região lombar, foi indescritível. Meus dedos quase afundaram nos braços dos enfermeiros que me seguravam.

Respirei fundo. Me deitei na cama cirúrgica. Meus braços foram amarrados, um tecido azul foi erguido entre meu rosto e o resto de meu corpo. Comecei a ser monitorada. Orei entregando aquele momento à Deus.

Meu marido entrou no quarto, de touca e máscara cirúrgica, trazendo a máquina fotográfica em mãos. Ele me assegurou que não desmaiaria e que registraria todos os momentos do nascimento. Quando ele segurou em minha mão, um filme passou pela minha cabeça. Pensei em tudo o que havia vivido até ali. Pensei em minha mãe. Pensei em falar uma frase de despedida, caso algo desse errado, mas não consegui. Uma felicidade imensa começou a me invadir, uma alegria inexplicável.

- Eles já cortaram a sua barriga - ele disse. Estão mexendo em você agora.

Eu sentia toda a movimentação, mas não sentia dor. Os médicos conversavam entre si sobre os mais variados assuntos. Uma canção tocava pela sala. Meu coração estava acelerado, mas eu estava calma. Meu bebê estava nascendo, ele estava chegando pra mim.

- Amor, tá nascendo!

Foi então que ouvi a doutora dizer a ele, às 01h05:
- Oi, tudo bem? Estávamos esperando por você, querido. Seja bem vindo.


O choro invadiu a sala. Um choro forte que invadiu o meu coração. Ele estava vivo, ele estava bem, eu estava bem. Meu amor beijou a minha testa, começamos a chorar juntos.

- Eu te amo, meu amor. Eu te amo.
- Eu também, querido... eu também!

Naquele momento a minha cabeça deu um nó, um giro de 360 graus. Eu já não era mais a mesma, tudo mudou. Naquele momento eu também havia nascido, uma nova pessoa, uma mãe. Uma pessoinha dependia de mim a partir daquele momento e eu era responsável por ela. 

Um dos médicos trouxe o nosso bebê para que o víssemos. Tão lindo, tão maravilhoso, com a mesma carinha que vimos no ultrassom. Não queríamos mais nos separar dele, mas ele teve que ser levado para os procedimentos necessários. A minha cirurgia continuou até que toda a cesárea fosse concluída. 

Fui levada na mesma cama ao corredor do hospital e já naquele momento comecei a sentir que a anestesia estava passando. Pedi à doutora que me desse algo para aliviar a dor e ouvi uma das respostas mais difíceis de minha vida:

- Querida, você não pode tomar nenhum tipo de medicação agora, a sua pressão está muito alta. Peça a Deus para te dar forças, quando você puder as enfermeiras lhe trarão algum alívio.

Respirei fundo e pedi a Deus que me ajudasse a passar por aquele momento. Fui levada na cama ao quarto e ali permaneci por algumas horas, sentindo toda a dor da operação. Minhas costas e minhas pernas também doíam muito e eu não conseguia descansar nem dormir.

No meio da madrugada a enfermeira mediu minha pressão e me deu analgésicos. Quando comecei a sentir um pouco de alívio das dores, a porta se abriu e outra enfermeira entrou, trazendo o meu bebezinho em uma caminha sobre um carrinho hospitalar.

- Aqui está o seu filhão, ele é lindo. Ele vai ficar aqui com vocês a partir de agora. Já está bem limpinho e tomou algumas horas de luz. É bom que você tente dar de mamar a ele agora.


Quando o segurei pela primeira vez senti algo indescritível. Por mais que eu usasse palavras para dizer o que senti, jamais conseguiria. A emoção, a alegria e a realização são tremendas! Ofereci meu seio a ele que depois de alguns minutos começou a produzir o colostro. Ele mamava um pouco tímido no começo, mas logo se aninhou em meus braços e se sentiu confortável para se alimentar e receber todo o carinho que eu tinha para lhe dar. Seu pai observava aquela cena com lágrimas nos olhos. Nós não conseguíamos parar de nos emocionar.

Na manhã seguinte recebemos a visita de um médico. Ele pegou a minha ficha, leu e me disse: 

- Hummmm... teve pré-eclâmpsia, né? E foi grave. Mas agora está tudo bem, né? Você está se sentindo bem, seu bebezinho já está aí com você, está tudo bem!

O quê? Eu tive pré-eclâmpsia? Sim, eu tive. E depois eu soube que minha pressão estava tão alta e minhas condições eram tão graves que se eu tivesse eclâmpsia, dificilmente sobreviveria. O bebê também correu risco de vida. Mais uma vez vivi um milagre.

Então o doutor continuou:
- Muito bem, muito bem, diferentemente dos outros bebês que sempre tiram no máximo nota 9 no teste apgar, esse meninão aqui tirou nota 10. Papai e mamãe, vocês têm um filho perfeito, parabéns.

Naquele instante eu soube que meu filho não era apenas perfeito fisicamente, mas também mentalmente. Deus havia dado um recado a nós dois. Ele havia realizado o milagre que tanto pedimos. Nosso filho era perfeito, em todos os sentidos.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

A gravidez

Este capítulo é um pouco longo. Imagine resumir 9 meses em poucas linhas! Sim, hoje vou falar sobre minha gravidez!

Após 7 anos de casamento, eu engravidei. Foi um dos momentos mais felizes de minha vida! Eu e meu amor havíamos planejado esperar alguns anos antes de termos um filho e tudo ocorreu conforme o planejado. Ali estava eu com trinta e poucos anos, grávida de meu primeiro filho.

Eu estava com 110 quilos e sabia que precisaria cuidar muito bem de minha saúde para não engordar horrores. Estava tendo um pequeno sangramento, algo que muitos me disseram que poderia ser normal no início da gravidez. Então, sem pensar duas vezes, passei a caminhar 1 hora por dia, mesmo com muitas dores nos joelhos. Passei a tomar ácido fólico e a maneirar naquilo que eu sabia que poderia me fazer engordar facilmente, como carboidratos e açúcares.

Mas já na primeira consulta oficial com a obstetra, recebi a notícia: aquele pequeno sangramento não era normal como eu havia imaginado. Era sinal de que algo estava errado. Tive que fazer repouso até saírem os resultados dos exames. Após alguns dias eu soube que havia acontecido um descolamento da placenta, algo comum, porém que necessita de cuidados. Permaneci então no leve repouso, evitando escadas e longos minutos em pé. Permaneci assim até passar do terceiro mês. Quando me pesei já havia ganho 3 quilos.


Minha pressão arterial começou a subir. Achei estranho pois normalmente ela era baixa. Foi quando minha obstetra decidiu me acompanhar de perto, fazendo com que eu fosse ao seu consultório a cada 10 dias. Logo vi que minha luta por aquele filho não seria fácil. Eu já não era tão nova e minhas condições de saúde não estavam ajudando. No quarto e quinto mês continuei em repouso, porém desta vez com mais rigidez, o chamado "repouso absoluto". Deveria evitar de andar, permanecendo deitada 90% do tempo. Não saía de casa, a menos que fosse à consultas médicas.

Por todos esses meses continuei a sangrar esporadicamente, às vezes em maior quantidade. Sempre telefonava à medica pedindo seus conselhos e ajuda. A parte descolada da placenta já havia colado, não conseguíamos encontrar o motivo dos sangramentos. Por algumas vezes tive que ser examinada. Certo dia sangrei tanto que precisei ir com urgência ao pronto socorro no meio da madrugada. Meu marido segurava a minha mão, chorando comigo, enquanto a médica plantonista fazia o ultrassom sem esboçar nenhuma reação. Depois de alguns minutos, finalmente ela ouviu o coraçãozinho do bebê e o viu se mexendo com vigor. Estava tudo bem com ele, graças a Deus! Voltamos chorando para casa, agradecendo a Deus.

Minha fé em Deus em nenhum momento foi abalada, pelo contrário. 

Percebi, com toda aquela dificuldade, que quanto mais nós não temos o controle sobre a situação, maior é o momento de aprender a depender dEle. Deus nunca falha e faz sempre o melhor para as nossas vidas, mesmo quando aquilo que Ele faz não tem "cara" de coisa boa. Passei cada vez mais a ter certeza de que o nascimento de meu filho seria um milagre.

Minha pressão continuava a subir. Os sangramentos não paravam. Eu estava tomando medicamentos para segurar o bebê dentro de meu útero e não passar por um aborto espontâneo. Foi quando fui ao endocrinologista para fazer um exame e ver como estava o meu hipotireoidismo. O susto foi grande quando o resultado chegou: estava totalmente desregulado! Aumentamos a dosagem do remédio da tireoide e passamos a monitorá-la com cuidado a partir de então.

Então um dia fui chamada pela obstetra para ter uma conversa séria. Ela me dizia para eu me manter calma, que tudo daria certo, que tudo iria acabar bem. Confesso que essas palavras me assustaram bastante. Enquanto eu me deitava na sala ao lado, sobre o meu braço direito levantado para que minha pressão baixasse, ela conversava com a minha sogra. Eu morava na cidade da família de meu marido e por isso não tinha ninguém do meu sangue me acompanhando de perto em toda essa situação. 

Depois de 20 minutos de espera, ela voltou, mediu minha pressão e disse "ótimo, ótimo, baixou". Então começou a me dizer que eu não poderia mais engordar nem uma grama sequer, pois isso traria sofrimento fetal. Eu havia engordado 6 quilos em 5 meses de gestação e se continuasse nesse ritmo, engordaria facilmente de 12 a 15 quilos até o final. Entrei em desespero! Como eu faria para parar de engordar, sendo que eu mal comia? Passei a tomar remédio para baixar a pressão, além de continuar tomando o remédio da tireoide para segurar o bebê em meu útero. A luta ficava cada vez mais difícil.

Quando entrei no elevador com a minha sogra, ela começou a chorar desesperadamente. Assustada, perguntei o que estava acontecendo e ela me contou:
- A doutora não quis te assustar, mas ela conversou comigo! Ela me alertou que se você continuar assim, com a pressão subindo, engordando e sangrando, você vai perder o bebê! Ela está muito preocupada, meu Deus, você está prestes a perder essa criança!


Meu Deus, o que me restava? Já estava tomando os remédios, já estava comendo apenas comida, mal comia pão ou macarrão, quase não tomava refrigerantes... Não podia caminhar devido ao repouso! O que me restava?

Foi quando perguntei à médica se eu poderia fazer dieta e ela disse que eu deveria fazer. Me explicou que o bebê adquire energia da gordura da mãe obesa. A partir daquele dia passei a comer frutas, legumes, verduras e muita água. Não comia carboidratos, nem arroz, nem feijão. Só comia carnes magras. E comia muita carambola. Se eu tive um desejo nessa gravidez, foi de comer carambolas ainda um pouco verdes, bem geladas. Eu comia gelo também, muito gelo, o dia todo. Fazia mais de 40 graus e eu não aguentava o calor. Cheguei ao ponto de passar o dia apenas comendo carambolas e gelo.

Estava no sexto mês de gestação, tomando vários medicamentos, fazendo repouso absoluto, lutando com todas as minhas forças para não perder o meu bebê. Buscava em Deus o consolo e a força necessária, sozinha eu não conseguiria. Meu amor sempre ao meu lado, sofrendo comigo, vibrando com cada dia que passava e nosso bebê permanecia dentro de mim.

Então, durante uma madrugada acordei sangrando novamente, em grande quantidade. Acordei o meu amor aos prantos e fomos ao hospital. Os aparelhos de ultrasson não estavam funcionando. Precisei ser examinada manualmente pelo ginecologista que estava de plantão, em uma mesa fria de aço, sob as luzes fluorescentes, sem pano algum nos separando. Enquanto ele mexia dentro de mim, meu amor segurava em minhas mãos orando para que não fosse nada grave. Então o doutor nos disse:

- Olha, o seu útero está fechado. O seu bebê está aí dentro. Não há o que se fazer. Se você perder o seu bebê, irá perdê-lo aqui ou em qualquer outro lugar, não há como evitar. Você prefere ficar aqui internada ou prefere ficar em sua casa?


- Eu vou pra casa - respondi. Andando muito devagar, voltei para casa, amparada pelo meu amor. Nos deitamos na cama e oramos. Mais uma vez entregamos o nosso bebê a Deus, sabendo que Ele saberia o que seria melhor para nós. Independentemente do que acontecesse, Deus continuaria sendo bom.

No dia seguinte fui à medica, contei o ocorrido. Fiz um ultrasson e constatamos que estava tudo bem apesar do sangramento inexplicável que não parava. Já sabíamos que era um menino que estava dentro de mim. Um guerreiro, como a mãe. Escolhemos um nome significativo, um nome composto que fazia menção a dois discípulos de Jesus. Queríamos que ele tivesse as qualidades que aqueles dois homens tiveram.

Naquele dia a médica me disse que precisava falar algo muito difícil de se falar. Então ela me contou que meu bebê tinha 90% de chances de nascer idiota, devido à minha tireoide ter ficado desregulada por tanto tempo durante a gravidez e devido aos sangramentos e sofrimento fetal. Ela me explicou que idiota é uma criança com um QI baixíssimo, incapaz de realizar os raciocínios mais fáceis e de guardar as informações mais básicas. Segurando minha mão, ela me disse que Deus era o médico dos médicos e que poderia me agraciar com os 10%, mas que isso seria muito pouco provável de acontecer, só mesmo um milagre.

Voltei pra casa, me ajoelhei e chorei. Chorei agradecendo a Deus pelo meu bebê, chorei porque já o amava tanto, chorei porque mesmo com aquela notícia terrível eu sabia que Ele poderia fazer um milagre. Chorei por horas. Quando contei ao meu amor, choramos juntos, oramos juntos e pedimos a Deus forças para passar por aquilo. Se essa fosse a vontade do Senhor, que Ele nos desse forças para enfrentar todas as dificuldades que teríamos dali por diante. Que Ele nos ajudasse a enfrentar um mundo que tem atitudes tão hostis com pessoas deficientes.

Chorei por mais alguns dias. Depois lavei meu rosto, enxuguei minhas lágrimas, respirei fundo e me preparei para enfrentar o restante de minha gravidez.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

O inesperado

Tudo é lindo no início do casamento! A lua-de-mel, a chegada em casa e as primeiras horas abrindo os presentes de casamento, as primeiras comidinhas feitas a dois, a delícia de não ter horário para chegar em casa, a liberdade, a independência. Viver a dois é uma delícia! Estávamos vivendo um sonho. Depois de tantos anos de namoro, finalmente estávamos juntos em nossa casa, em nosso lar.

Como não pretendíamos ter filhos logo, comecei a tomar pílula anticoncepcional. Ao comentar com o médico sobre a minha facilidade em engordar e a dificuldade em emagrecer, ele me receitou a pílula "mais fraca" que existia na época e fiquei tranquila em tomá-la. Na época eu estava com 75 kg.

Conforme os meses foram passando, eu comecei a engordar. Rapidamente ganhei 10 quilos, mas as roupas ainda me cabiam apesar de ficarem um pouco justas. Certo dia, ao colocar a calça jeans, percebi que ela já não fechava mais. Na semana seguinte, várias roupas já não me serviam. Estava com muito medo de me pesar, apesar de perceber os olhares das pessoas... aquele velho olhar que me davam todas as vezes em que eu estava gorda.

Quatro meses após o meu casamento tomei coragem e subi na balança. Naquele momento, quando me deparei com os números, comecei a chorar. Um choro terrível, dolorido, cheio de frustração, medo e desesperança. Eu havia engordado 40 kg em 4 meses. Nunca, em toda a minha vida, havia estado tão gorda. A partir daquele momento eu não era apenas uma pessoa gorda, mas alguém com obesidade mórbida.

Lidar com esse fato dentro do meu casamento foi algo extremamente difícil. Mesmo com todo o amor, compreensão e carinho demonstrados pelo meu marido, eu me sentia horrível. Não conseguia entender como ele poderia sentir atração por mim. Mas ele continuava dizendo que eu era linda, que mesmo gorda eu mexia com os seus instintos, que meu corpo era cheio de curvas... O seu apoio e seu amor incondicional me ajudaram a passar por essa fase de uma maneira menos dolorosa.


Não entendia o porque de ter engordado tanto! Decidida mais uma vez a lutar, fui eliminando alguns alimentos, deixando alguns hábitos... mas nada era capaz de impedir que meu corpo adquirisse maior peso. Foi quando pensei nas pílulas anticoncepcionais. Parei de tomá-las e imediatamente parei de engordar.

Fui a outro ginecologista que me explicou que se eu engordei tanto com uma pílula tão fraca, então provavelmente eu não poderia mais tomar pílulas. Por alguma razão o meu organismo reagia daquela forma e não era possível impedir. Eu teria que usar outros métodos anticonceptivos.

Então lá estava eu, com meus quase trinta anos, tendo que lidar com um excesso de peso que nunca havia sido tão grande. Se eu já tinha dificuldade em perder peso antes, imagine naquele momento. Fazer caminhadas era um sacrifício enorme, meus joelhos e pés doíam muito, a letargia insistia em me acompanhar. Leves picos de tristeza faziam parte do meu dia-a-dia. 

Após alguns anos ganhando e perdendo em torno de 5 quilos, tomei a decisão de não mais tomar nenhum tipo de medicamento para emagrecer. Queria tentar algo novo. Foi então que li um livro intitulado "Livre Para Emagrecer, Graças a Deus" de Neva Colye e Marie Chapian. Através da contagem diária de calorias, leituras bíblicas e algumas orientações práticas, o livro me ajudou a eliminar 11 quilos. Nunca em toda a minha vida eu havia conseguido emagrecer sem o uso de medicamentos. Porém, parando de me policiar e comendo sem prestar atenção às calorias, ganhei todos os 11 quilos novamente.

Percebi naquele momento que, se eu quisesse manter um corpo magro e saudável, eu teria que me policiar pelo resto de minha vida. Lembrei-me da primeira consulta que fiz com o Dr. Alpredo Halpern, a maior autoridade da américa latina em endocrinologia. Ele me disse:

"Você precisa entender que tem uma doença crônica chamada obesidade. As pessoas não gostam de tratá-la como doença, mas é o que ela é. Você terá que tomar providências a respeito disso pelo resto de sua vida. É uma doença que precisa ser tratada e controlada diariamente. As calorias são ferramentas dadas por Deus pra que você consiga ter o controle sobre o que entra ou não através de sua boca. Você deve controlar as calorias e não deixar que elas controlem você. Essa conversa de que 'só é gordo quem quer' é a maior furada. Pergunte para qualquer gordo se ele quer emagrecer e você saberá a resposta."


quinta-feira, 2 de abril de 2015

Uma nova história

O tempo passou e conheci uma pessoa incrível que se tornou o meu melhor amigo. Foram meses de uma amizade super gostosa onde contei a ele tudo o que contei neste blog e um pouco mais. Ele sabia de minha vida com detalhes que ninguém mais sabia e me aceitava do jeito que eu era, me valorizava pelas minhas conquistas e me dava força nas minhas lutas. Vivíamos muitas aventuras juntos, compartilhávamos um com o outro das maiores tristezas, alegrias, anseios, sonhos... Éramos totalmente diferentes um do outro e talvez justamente por esta causa, nos dávamos muito bem.

Nos dávamos tão bem que nos apaixonamos e começamos a escrever uma história de amor linda juntos, muito melhor do que qualquer uma que eu já tivesse vivido. Ele jamais me cobrou de nada, sempre me tratou com dignidade e sempre deixou claro que me amava e me achava lindíssima, estivesse o meu corpo como estivesse, magro ou gordo. Sempre me admirou e teve orgulho de mim, sempre me elogiou em público ou em particular. Esse amor gigante e intenso dele por mim me ajudou a enxergar cada vez mais que eu deveria sim buscar cuidar de meu corpo, mas não tentando alcançar um corpo ideal ou a magreza tão sonhada. Que agora eu tinha alguém ao meu lado para me acompanhar e me apoiar em todas as minhas escolhas.

Depois de alguns anos, ele me pediu em casamento. Foi um momento lindo, uma surpresa maravilhosa entre vários amigos nossos que nos aplaudiram muito ao ouvirem o pedido. Ficamos noivos ali mesmo, naquele momento.

A partir de então começamos a procurar tudo o que nos seria necessário: fotógrafos, filmagem, decoração, salão de festas e tudo o mais. Mas ao me olhar no espelho, vi que o meu sonho de entrar maravilhosa na igreja não poderia ser acompanhado de um vestido enorme. Eu precisava emagrecer pelo menos 15 quilos pra me sentir bonita e bem em um vestido branco!

Foi então que, deixando de lado todos os conselhos e todas as lembranças, resolvi tomar anfetaminas novamente. Eu sabia que o resultado seria eficaz, mesmo que eu engordasse tudo depois. Pisando em cima de todo e qualquer bom senso que eu poderia ter naquele momento, procurei aquele antigo médico, que me dava aquelas antigas receitas...

Quando olhei pra ele, comecei a tremer. Sabia que não deveria fazer aquilo. Respirei fundo e disse:

- O senhor se lembra de mim, não é? Eu não posso mais tomar anfetaminas do jeito que eu tomava antes... mas eu preciso emagrecer rapidamente, eu vou me casar e quero entrar lindíssima na igreja. O senhor não teria algum outro remédio que faça um efeito parecido, mas que não contenha os mesmos componentes das fórmulas que o senhor me receitava?

Foi então que ele me deu uma fórmula diferente. Algo que tinha sim alguma relação com as anfetaminas, mas que não era tão forte. Eu pensei, de verdade, que aquilo não fosse me fazer mal, já que haviam-se passado vários anos desde a minha dependência. O tratamento com dieta e medicação duraria alguns meses.

Como já era de se esperar, o remédio me tirou totalmente a fome. Para emagrecer mais rápido, eu passava o dia comendo frutas, legumes, queijo branco e barrinhas de cereais. Emagreci tudo o que queria, mas nesse meio tempo desmaiei algumas vezes, tive vertigens, fraqueza e alguns episódios depressivos aqui e ali. Também percebi que algumas sensações emocionais e psicológicas da época em que eu usava constantemente as anfetaminas voltaram. Tudo isso em meio à correria dos preparativos do casamento. Se uma noiva "normal" já enlouquece, imagine eu...


Enfim, chegou o grande dia!

Todos os preparativos, toda a correria, toda a loucura, todos os gastos valeram a pena! A nossa felicidade naquela dia era sem tamanho, nosso sonho havia se realizado, éramos o casal mais feliz do mundo!

Ali estava eu, entrando na igreja, linda, com uma coroa maravilhosa em minha cabeça, um véu imenso, o vestido que eu mesma havia desenhado, os bordados de strass brilhando, a cauda de quase 3 metros se arrastando no chão, o buquê lindíssimo em mãos, a luz focada em mim, todos me olhando e sorrindo... Tudo perfeito, tudo como eu sempre sonhei. Não era uma gorda imensa entrando num vestido branco enorme. Eu estava linda, com um corpo lindo. Enquanto eu entrava e olhava para o meu noivo, o tempo parecia ter parado. Uma sensação surreal... eu sentia como se estivéssemos só nós dois, enquanto eu caminhava em direção a ele ao som da música que embalou o nosso amor por tantos anos, o tema de "A Bela e a Fera".

Ali naquele altar, diante de centenas de pessoas, nós juramos amor eterno. Juramos ser fiéis na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de nossas vidas, até que a morte nos separasse. E para isso empenhamos a nossa honra.

Ali, naquele momento, onde tudo estava tão perfeito, jamais imaginaria o que me aconteceria alguns meses depois.