segunda-feira, 6 de abril de 2015

A gravidez

Este capítulo é um pouco longo. Imagine resumir 9 meses em poucas linhas! Sim, hoje vou falar sobre minha gravidez!

Após 7 anos de casamento, eu engravidei. Foi um dos momentos mais felizes de minha vida! Eu e meu amor havíamos planejado esperar alguns anos antes de termos um filho e tudo ocorreu conforme o planejado. Ali estava eu com trinta e poucos anos, grávida de meu primeiro filho.

Eu estava com 110 quilos e sabia que precisaria cuidar muito bem de minha saúde para não engordar horrores. Estava tendo um pequeno sangramento, algo que muitos me disseram que poderia ser normal no início da gravidez. Então, sem pensar duas vezes, passei a caminhar 1 hora por dia, mesmo com muitas dores nos joelhos. Passei a tomar ácido fólico e a maneirar naquilo que eu sabia que poderia me fazer engordar facilmente, como carboidratos e açúcares.

Mas já na primeira consulta oficial com a obstetra, recebi a notícia: aquele pequeno sangramento não era normal como eu havia imaginado. Era sinal de que algo estava errado. Tive que fazer repouso até saírem os resultados dos exames. Após alguns dias eu soube que havia acontecido um descolamento da placenta, algo comum, porém que necessita de cuidados. Permaneci então no leve repouso, evitando escadas e longos minutos em pé. Permaneci assim até passar do terceiro mês. Quando me pesei já havia ganho 3 quilos.


Minha pressão arterial começou a subir. Achei estranho pois normalmente ela era baixa. Foi quando minha obstetra decidiu me acompanhar de perto, fazendo com que eu fosse ao seu consultório a cada 10 dias. Logo vi que minha luta por aquele filho não seria fácil. Eu já não era tão nova e minhas condições de saúde não estavam ajudando. No quarto e quinto mês continuei em repouso, porém desta vez com mais rigidez, o chamado "repouso absoluto". Deveria evitar de andar, permanecendo deitada 90% do tempo. Não saía de casa, a menos que fosse à consultas médicas.

Por todos esses meses continuei a sangrar esporadicamente, às vezes em maior quantidade. Sempre telefonava à medica pedindo seus conselhos e ajuda. A parte descolada da placenta já havia colado, não conseguíamos encontrar o motivo dos sangramentos. Por algumas vezes tive que ser examinada. Certo dia sangrei tanto que precisei ir com urgência ao pronto socorro no meio da madrugada. Meu marido segurava a minha mão, chorando comigo, enquanto a médica plantonista fazia o ultrassom sem esboçar nenhuma reação. Depois de alguns minutos, finalmente ela ouviu o coraçãozinho do bebê e o viu se mexendo com vigor. Estava tudo bem com ele, graças a Deus! Voltamos chorando para casa, agradecendo a Deus.

Minha fé em Deus em nenhum momento foi abalada, pelo contrário. 

Percebi, com toda aquela dificuldade, que quanto mais nós não temos o controle sobre a situação, maior é o momento de aprender a depender dEle. Deus nunca falha e faz sempre o melhor para as nossas vidas, mesmo quando aquilo que Ele faz não tem "cara" de coisa boa. Passei cada vez mais a ter certeza de que o nascimento de meu filho seria um milagre.

Minha pressão continuava a subir. Os sangramentos não paravam. Eu estava tomando medicamentos para segurar o bebê dentro de meu útero e não passar por um aborto espontâneo. Foi quando fui ao endocrinologista para fazer um exame e ver como estava o meu hipotireoidismo. O susto foi grande quando o resultado chegou: estava totalmente desregulado! Aumentamos a dosagem do remédio da tireoide e passamos a monitorá-la com cuidado a partir de então.

Então um dia fui chamada pela obstetra para ter uma conversa séria. Ela me dizia para eu me manter calma, que tudo daria certo, que tudo iria acabar bem. Confesso que essas palavras me assustaram bastante. Enquanto eu me deitava na sala ao lado, sobre o meu braço direito levantado para que minha pressão baixasse, ela conversava com a minha sogra. Eu morava na cidade da família de meu marido e por isso não tinha ninguém do meu sangue me acompanhando de perto em toda essa situação. 

Depois de 20 minutos de espera, ela voltou, mediu minha pressão e disse "ótimo, ótimo, baixou". Então começou a me dizer que eu não poderia mais engordar nem uma grama sequer, pois isso traria sofrimento fetal. Eu havia engordado 6 quilos em 5 meses de gestação e se continuasse nesse ritmo, engordaria facilmente de 12 a 15 quilos até o final. Entrei em desespero! Como eu faria para parar de engordar, sendo que eu mal comia? Passei a tomar remédio para baixar a pressão, além de continuar tomando o remédio da tireoide para segurar o bebê em meu útero. A luta ficava cada vez mais difícil.

Quando entrei no elevador com a minha sogra, ela começou a chorar desesperadamente. Assustada, perguntei o que estava acontecendo e ela me contou:
- A doutora não quis te assustar, mas ela conversou comigo! Ela me alertou que se você continuar assim, com a pressão subindo, engordando e sangrando, você vai perder o bebê! Ela está muito preocupada, meu Deus, você está prestes a perder essa criança!


Meu Deus, o que me restava? Já estava tomando os remédios, já estava comendo apenas comida, mal comia pão ou macarrão, quase não tomava refrigerantes... Não podia caminhar devido ao repouso! O que me restava?

Foi quando perguntei à médica se eu poderia fazer dieta e ela disse que eu deveria fazer. Me explicou que o bebê adquire energia da gordura da mãe obesa. A partir daquele dia passei a comer frutas, legumes, verduras e muita água. Não comia carboidratos, nem arroz, nem feijão. Só comia carnes magras. E comia muita carambola. Se eu tive um desejo nessa gravidez, foi de comer carambolas ainda um pouco verdes, bem geladas. Eu comia gelo também, muito gelo, o dia todo. Fazia mais de 40 graus e eu não aguentava o calor. Cheguei ao ponto de passar o dia apenas comendo carambolas e gelo.

Estava no sexto mês de gestação, tomando vários medicamentos, fazendo repouso absoluto, lutando com todas as minhas forças para não perder o meu bebê. Buscava em Deus o consolo e a força necessária, sozinha eu não conseguiria. Meu amor sempre ao meu lado, sofrendo comigo, vibrando com cada dia que passava e nosso bebê permanecia dentro de mim.

Então, durante uma madrugada acordei sangrando novamente, em grande quantidade. Acordei o meu amor aos prantos e fomos ao hospital. Os aparelhos de ultrasson não estavam funcionando. Precisei ser examinada manualmente pelo ginecologista que estava de plantão, em uma mesa fria de aço, sob as luzes fluorescentes, sem pano algum nos separando. Enquanto ele mexia dentro de mim, meu amor segurava em minhas mãos orando para que não fosse nada grave. Então o doutor nos disse:

- Olha, o seu útero está fechado. O seu bebê está aí dentro. Não há o que se fazer. Se você perder o seu bebê, irá perdê-lo aqui ou em qualquer outro lugar, não há como evitar. Você prefere ficar aqui internada ou prefere ficar em sua casa?


- Eu vou pra casa - respondi. Andando muito devagar, voltei para casa, amparada pelo meu amor. Nos deitamos na cama e oramos. Mais uma vez entregamos o nosso bebê a Deus, sabendo que Ele saberia o que seria melhor para nós. Independentemente do que acontecesse, Deus continuaria sendo bom.

No dia seguinte fui à medica, contei o ocorrido. Fiz um ultrasson e constatamos que estava tudo bem apesar do sangramento inexplicável que não parava. Já sabíamos que era um menino que estava dentro de mim. Um guerreiro, como a mãe. Escolhemos um nome significativo, um nome composto que fazia menção a dois discípulos de Jesus. Queríamos que ele tivesse as qualidades que aqueles dois homens tiveram.

Naquele dia a médica me disse que precisava falar algo muito difícil de se falar. Então ela me contou que meu bebê tinha 90% de chances de nascer idiota, devido à minha tireoide ter ficado desregulada por tanto tempo durante a gravidez e devido aos sangramentos e sofrimento fetal. Ela me explicou que idiota é uma criança com um QI baixíssimo, incapaz de realizar os raciocínios mais fáceis e de guardar as informações mais básicas. Segurando minha mão, ela me disse que Deus era o médico dos médicos e que poderia me agraciar com os 10%, mas que isso seria muito pouco provável de acontecer, só mesmo um milagre.

Voltei pra casa, me ajoelhei e chorei. Chorei agradecendo a Deus pelo meu bebê, chorei porque já o amava tanto, chorei porque mesmo com aquela notícia terrível eu sabia que Ele poderia fazer um milagre. Chorei por horas. Quando contei ao meu amor, choramos juntos, oramos juntos e pedimos a Deus forças para passar por aquilo. Se essa fosse a vontade do Senhor, que Ele nos desse forças para enfrentar todas as dificuldades que teríamos dali por diante. Que Ele nos ajudasse a enfrentar um mundo que tem atitudes tão hostis com pessoas deficientes.

Chorei por mais alguns dias. Depois lavei meu rosto, enxuguei minhas lágrimas, respirei fundo e me preparei para enfrentar o restante de minha gravidez.

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