sexta-feira, 3 de junho de 2016

Alegria em meio a dor

Hoje vou falar de algo incrível que me aconteceu durante esses longos e tenebrosos 10 meses. Na verdade somaram-se mais alguns meses ao total, pois após o diagnóstico dizimante da reumatologista, permaneci no mesmo estado enquanto meu marido procurava alguma outra alternativa para o meu caso. Foram, no total, 1 ano de reclusão e dores.

Quando olho para aquele tempo, não consigo entender como não enlouqueci. Bom, na verdade consigo... Tenho um Deus que cuida de mim. Ele manteve minha sanidade e fez com que eu vivesse um dia de cada vez. Sim, para cada dia em que eu acordava, eram 24 horas a serem vividas, sem somar com as passadas. Se, por alguns instantes, olhasse para trás e pensasse "estou assim há tanto tempo", enlouqueceria.

Meu quarto tinha 3 portas: uma de entrada, uma para a suite e uma para a varanda. Costumo dizer que esta porta para a varanda era minha companheira. Deitada por horas em minha cama, olhava para aquela porta aberta, olhava para o céu, ouvia as pessoas que estavam na rua, os carros, os animais miando, latindo, assoviando. A vida de lá de fora entrava pelo meu quarto e por mais que eu pudesse me sentir sozinha, não me sentia.

As redes sociais e aplicativos me mantinham em atividade. Através do computador ou do Smartphone eu mantinha contato com muitas pessoas. A grande maioria sempre perguntava sobre mim, solidarizando-se com minha dor e mostrando amor. Mas o que me preenchia era quando eu podia ajudar alguém através de horas de conversas por áudio ou mensagem. Me sentir útil, fazendo o que gosto (ajudar pessoas) me fazia crer que, mesmo que as coisas piorassem, sempre haveria algo bom a ser feito ainda. Estar com a saúde em frangalhos e mesmo assim fazer a diferença na vida de alguém é algo renovador.

Quantas vezes me peguei chorando, aos prantos, com medo de parar numa cadeira de rodas ou ficar entrevada numa cama para sempre. O medo sempre me perseguia, as dores não me davam um minuto de folga... Mas olhar para meu marido e meu filho me acalentava o coração. O amor deles para comigo sempre foi algo incrível.


E o grande destaque que dou hoje, olhando pra tudo isso, é para os amores de minha vida: meu marido e meu filho. Você que leu meus antigos posts viu como sempre fomos apaixonados uns pelos outros. Viver momentos de alegria e saúde com quem amamos é maravilhoso! Mas é na hora da tristeza, na hora da doença que sabemos a real intensidade deste amor. Meu marido nunca desanimou, nunca reclamou, nunca se prostrou. Soube se adaptar à nossa nova realidade, cuidando da casa, dos gatos e do nosso filho enquanto eu ficava deitada. Quantas vezes, após chegar de um dia cansativo de trabalho, ele ia cortar cebolas e temperar a carne. Ou então levar o lixo na rua, dar uma varrida na casa, guardar as coisas, pendurar as roupas no varal. É claro que ele sempre me ajudou ao longo de nosso casamento, mas entenda... nessa época tudo ficou só para ele fazer, sem minha ajuda. E quando ele estava triste e eu perguntava "o que foi?" ele dizia "nada, meu amor, só estou um pouco cansado".

Quantas foram as vezes em que eu me senti culpada por ele viver aquilo. Imagine... sair de casa vendo sua esposa deitada, cheia de dores. Voltar pra casa no final do dia e ver que a esposa ainda estava deitada, ainda com dores. Viver um cansaço físico intenso, mas muito maior que isso, viver um cansaço emocional gigantesco. Mais uma vez, presenciei nosso Deus renovando suas forças sobrenaturalmente, dando ânimo e coragem para enfrenar o que fosse. E a cada dia enfrentávamos, juntos, aqueles meses terríveis.


Quanto ao meu filho... Meu coração dói ao relembrar. Perdi um ano inteirinho da vida social de meu amorzinho. Não vi sua apresentação do dia das mães, não fui ao shopping, à praia, ao parque, não fui nas reuniões de pais e mestres, não o acompanhei à igreja, não andei de mãos dadas na calçada. Todo aquele tempo fui mãe dentro de casa, deitada na cama ou sentada no sofá, com as pernas esticadas. Meu temperamento e minhas forças vindas de Deus me ajudaram a lidar com isso, brincando com ele, o acompanhando nos estudos e o educando. Tirávamos muitas fotos, filmávamos nossas brincadeiras e eu sempre chorava longe dele. Algumas vezes não conseguia esconder... Era quando ele me abraçava, me enchia de beijos e dizia "mamãe, Deus está cuidando de tudo, vai passar, eu te amo".

terça-feira, 24 de maio de 2016

Pesadelo

Após o diagnóstico dado pela reumatologista, iniciei meu tratamento tomando anti-inflamatórios, fortes analgésicos, colágeno hidrolisado e vitamina D. Segundo a médica, eu não poderia fazer nenhum tipo de atividade física ou fisioterapia, pois poderia ocasionar algum tipo de lesão. Primeiramente eu deveria me livrar das inflamações.

Com o passar do tempo não vimos melhora em meu quadro; as dores continuavam firmes e fortes. Mudamos os medicamentos várias vezes durante 10 meses, sem nenhum resultado. Sofri muito com os efeitos colaterais e durante este tempo permaneci trancada em casa, pois não conseguia caminhar. Andar de carro me trazia dores terríveis. Caminhar por mais de 50 metros me fazia chorar, tamanha dor que sentia. Muitas vezes minhas costas travavam e eu permanecia imóvel por vários minutos até conseguir me mexer novamente. A única posição que fazia com que minhas dores ficassem menos insuportáveis era a horizontal. Então era o que me restava: passar meus dias e noites deitada.

Foram 10 meses beirando a insanidade. Minha casa sempre desarrumada, pois eu não tinha condições de fazer absolutamente nada. As dores nas pernas irradiaram para a coluna lombar e meu corpo passou a sofrer um estresse. Todo o meu corpo passou a doer, todas as juntas, todos os membros. Sentia como se estivesse completamente dolorida. Qualquer movimento me trazia muita dor. Meu marido e meu filho faziam o que podiam, guardavam uma coisinha aqui, limpavam outra ali... Meu marido me ajudava fazendo o almoço e o jantar, tentando manter a arrumação que a faxineira fazia a cada 15 dias. Mas, por mais boa vontade que ele e meu filho tivessem, era impossível manter tudo limpo e em ordem. 

Minhas distrações eram a tv, leituras, orações, internet. Mantinha contato com as pessoas através do facebook, e-mails, conversas por messenger e por whatsapp. Muitas pessoas diziam estar orando por mim, pessoas de todo o Brasil e de alguns outros países. 


Eu não conseguia receber visitas, por mais que as quisesse. 

Quando olho para trás percebo nitidamente a mão de Deus me sustentando durante aqueles meses. Imagine... foram 10 meses indo do quarto para a sala, da sala para a cozinha, da cozinha para o quarto... sempre andando devagar, sempre com fortes dores, 24 horas por dia...

Foi quando, depois de 10 meses de tratamento, ouvi a conclusão da reumatologista:

- Infelizmente o seu tratamento não obteve o resultado esperado. Em outras palavras, já era para você estar bem melhor, sem dores. Não há mais o que se fazer. O ideal é que você procure outro médico, de outra especialidade. Mas se houvesse alguma chance de melhora, esta já teria acontecido.

Em outras palavras: "Você vai ficar assim pra sempre".

domingo, 15 de maio de 2016

Em busca de respostas

As dores nas pernas continuavam firmes e fortes. Conforme indicação do ortopedista, marquei consulta com uma reumatologista do meu plano de saúde, mas tal consulta seria só depois de alguns meses. Como não queria esperar por tanto tempo, fui a outra reumato pagando uma consulta particular.


Chegando à clínica fui muito bem recebida. Na sala de espera havia chás variados, cafés, bolachas, ar condicionado, tv, revistas atuais e funcionárias extremamente atenciosas. Porém, ao entrar na sala da médica, logo fui recebida por um olhar acusador. Estranhei muito, afinal, jamais havíamos nos visto. Ela percorreu o meu corpo de cima a baixo com os seus olhos, olhou fixamente para as minhas unhas que estavam com esmalte azul, olhou para o meu rosto e disse: "Sente-se. O que está acontecendo com você?".

Para não ser levada pela minha primeira impressão, comecei a relatar tudo como se estivesse sendo ouvida pela pessoa mais dócil do mundo. Depois de falar meu caso com detalhes, inclusive a opinião do ortopedista a respeito de uma possível fibromialgia, o que ouvi foi o seguinte:

- Você está com stress e vai precisar emagrecer muito se quiser alguma melhora no seu quadro, já vou adiantando. Como o seu corpo vai aguentar tanto peso assim? E a fibromialgia, nem vamos falar disso. Vamos fazer uma série de exames de sangue, mas essa dor não tem cara de nada grave.

Eu havia ouvido falar que a falta de vitamina D causa muitas dores, então perguntei se ela pediria este exame também. Ouvi um sonoro e mau humorado "Vou pedir aquilo que eu achar necessário". Sem me examinar, entregou o pedido dos exames, se levantou, abriu a porta e me disse "passe bem".

Saí daquele sala pra nunca mais voltar.


Esperei por alguns meses e então fui à reumatologista do meu plano. Que diferença! Uma médica atenciosa, que me ouviu olhando em meus olhos, que me explicou várias possibilidades de diagnóstico para o meu quadro e que disse que há muitas pessoas magras que sentem dores como as minhas. Não taxou o meu problema como "coisa de gente gorda". Me pediu uma série grande de exames de sangue, vasculhando tudo. Inclusive o tal exame de vitamina D.

Enquanto ela me examinava, tocando vários pontos de meu corpo, eu gritava várias vezes. Sentia muita dor! Então ela me disse: dos 18 pontos da fibromialgia, você sente dor em todos. Você está toda inflamada. Mas você só será diagnosticada com essa doença depois que todas as outras forem descartadas.

Entre fazer os exames e ir ao retorno, passaram-se quase dois meses. Ao olhar para o resultado, ela constatou que eu estava com falta de vitamina D, mas não num nível que me trouxesse tantas dores. Todos os outros exames estavam estáveis. Então, pegando minha ressonância da coluna e a eletroneuromiografia, ela disse:

- Você não tem problema algum relacionado à reumatologia. Seu problema é mecânico, uma disfunção relacionada à coluna. Observando a ressonância e a eletroneuromiografia, vemos que você está com artrose nas vértebras. Esta artrose está fazendo com que suas vértebras se aproximem e prendam o seu nervo ciático, por isso você sente tantas dores assim. Vamos tratar disso e você vai ficar boa! Você tomará alguns medicamentos para dor, inflamação e também para fazer sua cartilagem aumentar. Isso afastará as suas vértebras e soltará o seu nervo, trazendo alívio e vida normal. Mas você terá que ter paciência, esse tratamento costuma durar em torno de dois anos.

Sorri, feliz por saber que havia um diagnóstico. Eu não estava com "dores psicológicas", como alguns estavam pensando. Não estava com problema "por estar muito gorda". Havia uma explicação! Mesmo o preço altíssimo dos medicamentos e o tempo que eu teria que esperar para ver alguma melhora não tiraram minha esperança. Eu iria lutar, bravamente, mais uma vez.