segunda-feira, 23 de março de 2015

Adolescência

Aos doze anos eu já exibia um corpo de moça. Seios fartos, bumbum também. Já não era mais tão gorda, havia crescido um pouco em estatura, a barriga havia diminuído.

Porém, aos treze anos levei um susto. Quando achava que estava tudo bem, tudo normal, escuto um grito vindo de um grupo de meninos que estavam na arquibancada, enquanto eu e minha amiga magra fazíamos cooper: "Olha que coisa mais linda, que coisa mais elegante, uma princesa correndo com um elefante". O elefante era eu.

É claro que naquele momento eu empinei o queixo, levantei minha cabeça e me fiz de dona da situação. Mas quando cheguei em casa chorei copiosamente por mais de uma hora. Naquele momento decidi que procuraria um médico para me auxiliar em minha perda de peso. Mal sabia eu que aquele era o primeiro grande passo na direção errada.


Estávamos nos anos 80. Era o auge das anfetaminas e das fórmulas mágicas de emagrecimento. A pessoa tomava algumas pílulas por dia, não sentia fome, mal se alimentava e perdia vários quilos. Sim, perdia, porque quem perde, um dia encontra. Me lembro de ter perdido em torno de 8 quilos na ocasião. Era a glória!


Walkyria havia vencido a primeira batalha, mas infelizmente não a guerra.
Após alguns meses os quilos voltaram, trazendo uns a mais.

Várias e várias batalhas foram travadas durante toda a adolescência. Em algumas perdia-se de 8 a 12 quilos, em outras 15 quilos. Aos 16 anos cheguei a perder 23 quilos. Mas os quilos sempre voltavam e eu sempre ficava mais gorda do que estava antes de tomar as anfetaminas.

Quando olho pra trás e me lembro de como era o meu corpo, tenho vontade de gritar pra aquela adolescente: "Hey, sua boba, pare de dar ouvidos pra essa gente! Você é linda! A gorda que eles tanto tiram sarro não tem mais do que 80 quilos, com 1,63 de altura. Você é gordinha sim, mas é linda, cheia de curvas, toda durinha. Vários meninos olham pra você te admirando, você já teve alguns namorados, teve até um que era o menino mais bonito da escola. Ele poderia escolher qualquer menina, mas quis ficar com você, porque além de linda você também é inteligente, legal, engraçada, cheia de qualidades. Não deixe isso embaçar a sua visão sobre quem você realmente é!".

Porém, eu continuava indo no mesmo médico que me garantia que, se eu tivesse força de vontade, manteria o meu peso normal. A vontade de ser magra e de me livrar dos olhares de repulsa, das palavras de vergonha e das gozações da família a respeito do meu corpo gordo era maior do que tudo. Se era tomando anfetaminas que eu alcançaria o meu objetivo, então continuaria tomando. Estava me envenenando e sabia disso. Só achava que estava no controle de tudo, quando na verdade não estava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Valeu!