segunda-feira, 23 de março de 2015

Infância

Vamos por partes.
Antes de mais nada preciso contar um pouco da minha história pra você.

Quase morri ao nascer. Fui intoxicada pela anestesia que o obstetra de minha mãe deu a ela para adiantar o parto. Ele teria uma viagem e um parto normal atrapalharia seus planos. Quem me salvou foi o meu pai, homem simples mas de uma inteligência ímpar. Ao perceber que meus sintomas eram os mesmos que ele lera em um livro de medicina que havia na estante de sua casa, correu gritar para quem quisesse ouvir que sua filhinha estava intoxicada pela anestesia e que precisava de cuidados urgentes nesse aspecto. Se não fosse ele, eu teria morrido ali mesmo.

Sobrevivi. Após passar vários dias na UTI, consegui ser levada para casa. Sendo a caçula de 4 irmãos, começava ali minha vida cheia de erros e acertos. Minha irmã, 15 anos mais velha, ajudava minha mãe a cuidar de mim. Minha outra irmã acompanhava tudo, mas não me lembro da sua participação em minha vida, talvez por ser uma criança de 10 anos que mais ficava na rua do que em casa. Meu irmão, com 7 anos na época, só soube que minha mãe estava grávida quando ela apareceu comigo em seus braços.

Conversando um pouco com minha família, soube que minha infância foi regrada a doces e carboidratos. Quando bebê, minha mãe mergulhava a chupeta no açúcar antes de colocar em minha boca. Minhas mamadeiras eram preparadas com leite engrossado com maizena e açúcar. Já maiorzinha, tomava Biotônico Fontoura para crescer forte e inteligente. Uma colher de sopa cheia por dia. E muito mingau de aveia ou de maizena. Muito refrigerante. Muita bolacha Maria. Minha mãe pensava que estava fazendo o melhor pra mim. Meu pai trabalhava o dia todo pra colocar dinheiro em casa, justamente pra que não nos faltasse nada.

Soube, bem mais velha, sobre o processo de formação das células de gordura. Se você alimentar uma criança de maneira saudável até os 11 anos, suas células serão magras e ela terá todas as chances de se tornar um adulto magro. Porém, se você alimentar uma criança com alimentos gordurosos, açúcares e carboidratos, suas células serão gordas e ela será definitivamente um adulto gordo.

Aos 10 anos comecei a dar os primeiros sinais de uma futura adulta gorda, adulta esta que teria problemas nesta área pelo resto da vida. Aos 11 anos menstruei e então a pequena Walkyria nasceu, embarcando nos primeiros meses de luta desta guerra tão desleal. O passado alimentar errôneo, aliado à genética e à pré-disposição ao armazenamento de gordura no corpo seriam seus maiores inimigos.

Naquela época o bulling já existia, mas ninguém se preocupava em combatê-lo. Eu era chamada pelas crianças na escola e pelos meninos maldosos na rua de baleia, rolha de poço, bujão de gás, barril, Wilza Carla, elefante, hipopótamo, gorducha, gordona, bola, bolota, balão.


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